domingo, 4 de novembro de 2007

A FIGUEIRA


Este poema começa no verão,

os ramos da figueira a rasar

a terra convidavam a estender-me

à sua sombra.Nela

me refugiava como num rio.

A mãe ralhava:A sombra

da figueira é maligna,dizia.

Eu não acreditava,bem sabia

como cintilavam maduros e abertos

seus frutos aos dentes matinais.

Ali esperei por essas coisas

reservadas aos sonhos.Uma flauta

longínqua tocava numa écloga

apenas lida.A poesia roçava-

-me o corpo desperto até ao osso,

procurava-me com tal evidência

que eu sofria por não poder dar-lhe

figura:pernas,braços,olhos,boca.

Mas naquele céu verde de agosto

apenas me roçava,e partia.

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