terça-feira, 27 de novembro de 2007

OFICINA IRRITADA


Eu quero compôr um soneto duro

Como poeta algum ousara escrever

Eu quero pintar um soneto escuro,

seco,abafado,difícil de ler.


Quero que meu soneto,no futuro,

não desperte em ninguém nenhum prazer.

E que,no seu maligno ar imaturo,

ao mesmo tempo saiba ser,não ser.


Esse meu verbo antipático e impuro

há de pungir,há de fazer sofrer,

tendão de Vénus sob o pedicuro.


Ninguém o lembrará:tiro no muro,

cão mijando no caos,enquanto Araturo,

claro enigma,se deixa surpreender.



De CARLOS DRUMOND DE ANDRADE

Óleo de MESTRE ALMADA

2 comentários:

Anônimo disse...

Bela imagem e belo poema! (E duro, mesmo, como o poeta o construiu).

Anônimo disse...

Credo, Senhor!
Que imagens e que linguagem!
bf