sábado, 16 de fevereiro de 2008

A ÚLTIMA VIAGEM DE JAYME OVALLE


OVALLE não queria a Morte

Mas era dele tão querida

Que o amor da Morte foi mais forte

Que o amor de Ovalle à vida.


E foi assim que a Morte,um dia

Levou-o em bela carruagem

A viajar - ah,que alegria!

Ovalle sempre adora viagem.


Foram por montes e por vales

E tanto a Morte se aprazia

Que fosse o mundo só de Ovalles

E nunca mais ninguém morria.


A cada vez que a Morte,a sério

Com cicerônica prestança

Mostrava a Ovalle um cemitério

Ele apontava uma criança.


A Morte,em Londres e Paris

Levou-o à forca e à guilhotina

Porém em Roma,Ovalle quis

Tomar a sua cangebrina.


Mostrou-lhe a Morte as catacumbas

E suas ósseas prateleiras

Mas riu-se muito,tais zabumbas

Fazia Ovalle nas caveiras.


Mais tarde,Ovalle satisfeito

Declara à Morte,ambos de porre:

- Quero enterrar-me,que é um direito

Inalienável de quem morre!


Custou-lhe esforço sobre-humano

Chegar à última morada

De vez que a morte,a todo o pano

Queria dar uma esticada.


Diz o guardião do campo-santo

Que noite alta,ainda se ouvia

A voz da Morte,um tanto ou quanto

Que ria,ria,ria,ria...



De Vinicius de Moraes

Imagem:"Morte de Inês de Castro" de Columbano Bordalo Pinheiro

3 comentários:

Codinome Beija-Flor disse...

Bom seria se pudessemos escolher a nossa hora da morte!
bj

Rosa Brava disse...

Confesso que não conhecia... Li e reli...

Bj

aminhapele disse...

Neste "sítio" publico o que vou buscar à arca...
Um abraço.