quinta-feira, 23 de outubro de 2008

CAEIRO


Gosto do céu porque não creio que elle seja infinito.


Que pode ter comigo o que não começa nem acaba?


Não creio no infinito,não creio na eternidade.


Creio que o espaço começa numa parte e numa parte acaba


E que agora e antes d'isso ha absolutamente nada.


Creio que o tempo tem um princípio e tem um fim,


E que antes e depois d'isso não havia tempo.


Porque ha-de ser isto falso? Falso é fallar de infinitos


Como se soubessemos o que são de os podermos entender.


Não:tudo é uma quantidade de cousas.


Tudo é definidi,tudo é limitado,tudo é cousas.




De Fernando Pessoa


Poema inédito,sem data,transcrito por Jerónimo Pizarro

4 comentários:

Anônimo disse...

Gostei de reler o postal.
Que carga de materialidade!

Caeiro, homem de pouca instrução?
Mas o mestre de Álvaro de Campos e de Ricardo Reis...
Alberto, o anti-filósofo. Melhor: Caeiro, o militante da "filosofia do não filosofar".

mc

mc

Codinome Beija-Flor disse...

Lindo, lindo, perfeito.
O que parece "eterno e infinito" pode até "ser" na simples fração de um minuto.
Abraços

vero disse...

Este poema confesso que não conhecia apesar de muito ter lido e estudado sobre Fernando Pessoa e seus heterónimos e continuo a fazê-lo quando sinto necessidade disso, a procura dos tais " porquês" que eu falo no meu ultimo escrito. Antes de haver o "tudo" houve o "nada" mas depois do "tudo" ficamos com o "nada" novamente....

Um beijo meu amigo

Sei que existes disse...

Bonito poema. Boa escolha.
Beijo grande