segunda-feira, 29 de dezembro de 2008
UTOPIA
Cidade
Sem muros nem ameias
Gente igual por dentro
Gente igual por fora
Onde a folha da palma
afaga a cantaria
Cidade do homem
Não do lobo,mas irmão
Capital da alegria
Braço que dormes
nos braços do rio
Toma o fruto da terra
É teu a ti o deves
lança o teu desafio
Homem que olhas nos olhos
que não negas
o sorriso,a palavra forte e justa
Homem para quem
o nada disto custa
Será que existe
lá para os lados do oriente
Este rio,este rumo,esta gaivota
Que outro fumo deverei seguir
na minha rota?
De José Afonso
segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
GOETZ
São os troncos troncos e um monte
puxado para o sol oblìquamente.
E a terra é de carvão,mar de raízes
e o sol dourado de limão,quse oculto,
estende-se sobre o verde da folhagem.
Uns fogachos brancos rompem sonoros.
Não se tinha contemplado ainda a porta.
Era vermelha sob a fechadura negra.
Pela fresta,o espaço era verde acinzentado
E duas cordas ao lado,atravassadas
por um ponto de interrogação horizontal
caíam musicais.
A praia era de guitarras destruídas,
voos negros rosados sobre azul,
e sobre o branco multliplicado do céu cantava
o azul,
cantava o branco sol e azul
e os fragmentos de guitarra verdes vermelhos
negros
cantavam mar azul,praia vermelha,
voos de andorinha negros.
puxado para o sol oblìquamente.
E a terra é de carvão,mar de raízes
e o sol dourado de limão,quse oculto,
estende-se sobre o verde da folhagem.
Uns fogachos brancos rompem sonoros.
Não se tinha contemplado ainda a porta.
Era vermelha sob a fechadura negra.
Pela fresta,o espaço era verde acinzentado
E duas cordas ao lado,atravassadas
por um ponto de interrogação horizontal
caíam musicais.
A praia era de guitarras destruídas,
voos negros rosados sobre azul,
e sobre o branco multliplicado do céu cantava
o azul,
cantava o branco sol e azul
e os fragmentos de guitarra verdes vermelhos
negros
cantavam mar azul,praia vermelha,
voos de andorinha negros.
De António Ramos Rosa
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
OU ARCANJO OU LADRÃO
Ou arcanjo ou ladrão,
Devorador
De perfumes,
De corpos
E de mitos.
Rei nos países interditos.
Conviva solitário do festim
Em que a noite me chama à sua mesa,
Pescador de silêncios e jardins
Na cidade terrível e acesa.
Ou arcanjo ou ladrão. Destruidor
Da imagem do outro que transporto
Tatuada no peito.
Rosa de carne azul que me deslumbra
Quando penetro a noite com o sexo
Que a minha solidão tornou perfeito.
Assim vogo e arremeto pelos tempos,
Invisível Apolo citadino,
Falus de herói coroado de giestas,
Transgressor voluntário do destino,
Pé de cabra forçando o impossível,
Brisa azul esquivando-se entre os outros,
Com laivos de infinito nas passadas,
Lampejos de infinito nos olhos admiráveis
E flores de estrume a definir-me a testa
De Príncipe e Senhor dos intocáveis.
De Ary dos Santos
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
EM MEMÓRIA DE CHICO MENDES
quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
CIDADEZINHA
No meu interior uma cidadezinha
Sem igrejas,sem bordeis,sem cinemas
Com muita luz do sol,com muita luz
Brilhando por um rio que atravessa
Junto à rua principal
Sem perfeituras,sem ditaduras
Sem ratos nas mesas
Nem gravatas lambendo sem parar
E para se chegar na minha casa
Tem que virar os olhos para mim
Tem que deixar de lado a goiabada
E me trazer o vinho
Beber pelo caminho
A alegria dos pardais
E a poesia envernizada de uma rua
Num subúrbio natural dentro de mim
De Gerson Deslandes,in Poetagem
Imagem retirada de baciadasalmas.com
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
CANÇÃO DO VERDADEIRO ABANDONO
Podem todos rir de mim,
Podem correr-me à pedrada,
Podem espreitar-me à janela
E ter a porta fechada.
Com palavras de ilusão
Não me convence ninguém.
Tudo o que guardo na mão
Não tem vislumbres de além.
Não sou irmã das estrelas,
Nem das pombas,nem dos astros.
Tenho uma dor consciente
De bicho que sofre as pedras
E se desloca de rastos.
De Natércia Freire
Gravura de Oswaldo Goeldi
sexta-feira, 5 de dezembro de 2008
A FACA
A palavra será faca
o sentido será gume
a imagem será chama
mas a matéria é o lume.
Lume dos nervos riscados
pelo fósforo do medo
lume dos dentes cerrados
pela goma dum segredo.
Lume das faces de cera
lume dos dedos de cal
lume golpe lume pedra
lume silêncio metal.
Lume que se acende a frio
e nos devora por dentro
lume agulha lume fio
da faca do pensamento.
Lume navalha que rasga
o ventre da solidão
vingança de quem se gasta
queimando frases em vão.
Lume lembrança das coisas
que nos arderam na voz
cinza viva que nos corta
e nos separa de nós.
De Ary dos Santos
o sentido será gume
a imagem será chama
mas a matéria é o lume.
Lume dos nervos riscados
pelo fósforo do medo
lume dos dentes cerrados
pela goma dum segredo.
Lume das faces de cera
lume dos dedos de cal
lume golpe lume pedra
lume silêncio metal.
Lume que se acende a frio
e nos devora por dentro
lume agulha lume fio
da faca do pensamento.
Lume navalha que rasga
o ventre da solidão
vingança de quem se gasta
queimando frases em vão.
Lume lembrança das coisas
que nos arderam na voz
cinza viva que nos corta
e nos separa de nós.
De Ary dos Santos
quinta-feira, 4 de dezembro de 2008
PARA VINICIUS
Há muita gente ainda por aí(tenho medo que aumente!) que de ti o que quer é o catorze,quer dizer o soneto, e rejeita teu outro meio de comunicar,que afinal é o mesmo:tocantar.
Perceba,por uma vez,essa gentalha,que o Vinicius poeta e o Vinicius sambista são da mesma igualha!
São
o operário
em construção.
Abração
Alexandre O'Neill
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
POEMA DO NATAL
PARA ISSO fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos -
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será a nossa vida
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrêla a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos -
Por isso precisamos velar
Falar baixo,pisar leve,ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso,talvez,de amor
Uma prece por quem se vai -
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem,graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte -
De repente nunca mais,esperaremos...
Hoje a noite é jovem;da morte,apenas
Nascemos,imensamente.
De Vinicius de Moraes
Incluido na edição inglesa "Penguin" de poesia latino-americana
terça-feira, 2 de dezembro de 2008
PARÁBOLA
Poemas são como vitrais pintados!
Se olharmos da praça para a igreja,
Tudo é escuro e sombrio;
E é assim que o Senhor Burguês os vê.
Ficará agastado? - Que lhe preste!...
E agastado fique toda a vida!
Mas - vamos! - vinde vós cá para dentro,
Saudai a sagrada capela!
De repente tudo é claro de cores:
Súbito brilham histórias e ornatos;
Sente-se um presságio neste esplendor nobre;
Isto,sim,que é pra vós,filhos de Deus!
Edificai-vos,regalai os olhos!
De J.W.Goetthe (1794 - 1832)
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