quinta-feira, 12 de março de 2009

O CIO DA POESIA


É no verão das palavras
no suor
das coisasamassadas
no calor
de coxas esculturais e bem-amadas
que o poeta traz o cesto das entradas.

Um cabaz de morangos um almude
de vinho novo e grave um alaúde
de arcanjos e marujos profetas;
- é sempre o quarto da saúde
quando se acende a luz dos poetas.

Quando ela nasce tudo o mais se cala
navios nos pinhais pinheiros nas florestas
filhos no sémen dos pais aromas dentro das giestas;
- só quando o cio é demais
é que o parto tem arestas

Quando a sibila das cores
abre as pernas às palavras
os poetas têm dores
como crianças que ladram.
E fazem sulcos na carne
golpes dentro da ternura
até chegarem ao cerne
da primavera mais dura.

Então acendem-se os poemas
feitos de poesia pura.

De Ary dos Santos
Pintura de Dali

Um comentário:

Anônimo disse...

Como rimam na perfeição Ary e Dali!...