segunda-feira, 31 de maio de 2010

SONETO DE LA CARTA

Amor de mis entrañas,viva muerte,
en vano espero tu palabra escrita
y pienso,con la flor que se marchita,
que si vivo sin mí quiero perderte.

El aire es immortal,la piedra inerte
ni conoce la sombra ni la evita.
Corazón interior no necesita
la miel helada que la luna verte.

Pero yo te sufrí,rasgué mis venas,
tigre y paloma,sobre tu cintura
en duelo de mordiscos y azucenas.

Llena,pues,de palabras mi locura
o déjame vivir en mi serena
noche del alma para siempre oscura.

De Frederico García Lorca

segunda-feira, 24 de maio de 2010

ELOGIO DE UMA CRIADA DE SERVIR

Mas quem és tu nobre sopeira
com os ralhos da criança
ainda há pouco?

Tu que pousas mãos de fada
entre os talheres
e percorres um reino
que se coze,aos poucos,

entre a hortaliça?

Tu mesmo avanças rápida
a esfregar os olhos
consegues da patroa
saídas,o namoro,as cartas.

Olha esses dedos
com seus aneis de peixe
nobre servente
com a capa dos bifes
e um pudim por coroa.

Olha esses cabelos
onde as flores de cebola
choram atadas pelo garfo
que trincha na cozinha.

Para aqui te estou falando
pois tu és a rainha
que descasca as batatas
e ouve concertina.

De Armando da Silva Carvalho

sexta-feira, 14 de maio de 2010

A UM JOVEM SOLDADO

Jovem.
Coroam-lhe as giestas os cabelos,
Generosas e loiras como fora.
Jaz no imenso campo
E é um grito
Que o vento,que o incensa,
Chora.

Morto.
Seu corpo liso e belo que vivera
Como as papoilas acres,dorme agora.
E seu olhar azul é uma estrela
Que a terra,que o sepulta,
Ignora.

De Ary dos Santos

sexta-feira, 7 de maio de 2010

ANIMAIS DOENTES

Animais doentes as palavras
Também elas
Vespas formigas cabras
De trote difícil e miúdo
Gafanhotos alerta
Pombas vomitadas pelo azul
Bichos de conta bichos que fazem de conta
Pequeníssimas pulgas uma sílaba só
Lagartos melancólicos
Estúpidas galinhas corriqueiras
Tudo tão doente tão difícil
De manejar de lançar de provocar
De reunir
De fazer viver

Ou então as orgulhosas
Palavras raras
Plumas de cores incandescentes
Altos gritos no aviário
E o branco sem uso
Imaculado
De certas aves da solidão

Para dizer
Queria palavras tão reais como chamas
E tão precárias
Palavras que vivessem só o tempo de dizer a sua parte
No discurso de fogo
Logo extintas na combustão das próximas
Palavras que não esperassem
Em sal ou em diamante
O minuto ridículo precioso raro
De sangrar a luz a gota de veneno
Cativa das entranhas ociosas.

De Alexandre O'Neill

segunda-feira, 3 de maio de 2010

A MINHA HORTALICEIRA

Vem às vezes bater à minha porta
a velhinha mais linda cá do Bairro.
Vem trazer os mimos da sua fresca horta;
e tem um bater tão doce de meiguice...
- "Trago laranjas finas,meu senhor!
    Ajude-me a baixar o cesto,por favor..."

E eu,que sou filho do trigo e dos favos de mel,
que fui a defumar na flor da laranjeira,
fico enlevado naquele olhar tão doce
a contar laranjas como se anjo fosse
a contar por brincadeira...

- (Anjos não sabem somar,cabeça tonta!
   Nasceram com tudo já somado.
   - Pois não,mas faz de conta).
- Um quarteirão,não foi que disse?
- Vinte e cinco e mais uma para o Samuel.

De Lopes Sebastião