Versos?! Paguei-os. Alegria e raiva.
As palavras por vezes impotentes
outras vezes escorrendo sangue e seiva
ao morderem a vida com os dentes.
Poesia que és uns dias minha noiva
com seios de palavras complacentes.
Poesia que outras vezes grita e uiva
fêmea capaz de fecundar sementes.
Poesia minha amiga minha irmã
mulher da minha vida que inventei
para fazermos filhos amanhã.
Poesia minha força e meu castigo
meu incesto tão puro que nem sei
se é verdade que faço amor contigo.
De Ary dos Santos
Fotografia de Enrico Nawrath/Bayreuth Festival/EFE
segunda-feira, 26 de julho de 2010
sexta-feira, 23 de julho de 2010
ERA UMA VEZ...
O que uma casa pensa de si
Se nunca foi moradia?
Nunca mais de alguns dias
Nunca mais que um feriado?
O que pensa de si o sobrado?
Que passou os natais fechados
E desfilou carnavais alugados
O que pensa de si a varanda
Que mesmo olhando pro oceano
Só tinha uma rede de pano
Para desbotar com os anos?
- Porque não nasci quitanda?
Teria talvez a esperança
De um dia virar mercado!
Ou continuar armazém
De secos e molhados.
O que pensou de nós aquela casa?
Quando a deixamos sozinha
Do dia pra noite?
Batemos asas como andorinhas
Em busca de outro verão
Virou só uma fotografia
Solar,do que não mais existe
Perdeu o mar na janela
O luar na soleira da porta
Ela nem é mais ela
E ninguém mais se importa
Como se a casa não tivesse coração
Hoje eu descobri,muito triste
Que coração,a casa tinha
Nós é que não.
De Gerson Deslandes
Se nunca foi moradia?
Nunca mais de alguns dias
Nunca mais que um feriado?
O que pensa de si o sobrado?
Que passou os natais fechados
E desfilou carnavais alugados
O que pensa de si a varanda
Que mesmo olhando pro oceano
Só tinha uma rede de pano
Para desbotar com os anos?
- Porque não nasci quitanda?
Teria talvez a esperança
De um dia virar mercado!
Ou continuar armazém
De secos e molhados.
O que pensou de nós aquela casa?
Quando a deixamos sozinha
Do dia pra noite?
Batemos asas como andorinhas
Em busca de outro verão
Virou só uma fotografia
Solar,do que não mais existe
Perdeu o mar na janela
O luar na soleira da porta
Ela nem é mais ela
E ninguém mais se importa
Como se a casa não tivesse coração
Hoje eu descobri,muito triste
Que coração,a casa tinha
Nós é que não.
De Gerson Deslandes
sexta-feira, 9 de julho de 2010
FIM DE SEMANA
Estirado na areia,a olhar o azul,
ainda me treme o parvalhão do corpo,
do que houve que fazer para ganhar o nosso,
do que houve que esburgar para limpar o osso,
do que houve que descer para alcançar o céu,
já não digo esse de Vossa Reverência,
mas este onde estou,de azul e areia,
para onde,aos milhares,nos abalançamos,
como quem,às pressas,o corpo semeia.
De Alexandre O'Neill
ainda me treme o parvalhão do corpo,
do que houve que fazer para ganhar o nosso,
do que houve que esburgar para limpar o osso,
do que houve que descer para alcançar o céu,
já não digo esse de Vossa Reverência,
mas este onde estou,de azul e areia,
para onde,aos milhares,nos abalançamos,
como quem,às pressas,o corpo semeia.
De Alexandre O'Neill
sexta-feira, 2 de julho de 2010
LAMENTO DE LUÍS DE CAMÕES NA MORTE DE ANTÓNIO,SEU ESCRAVO
... viveu em tanta pobreza,que se não tivera
um jau,chamado António,que da Índia trouxe,
que de noite pedia esmola para o ajudar a
sustentar,não pudera aturar a vida.
Como se viu,tanto que o jau morreu,
não durará ele muitos meses.
Pedro de Mariz
Devias estar aqui rente aos meus lábios
para dividir contigo esta amargura
dos meus dias partidos um a um.
- eu vi a terra limpa no teu rosto,
só no teu rosto e nunca em mais nenhum.
De Eugénio de Andrade
um jau,chamado António,que da Índia trouxe,
que de noite pedia esmola para o ajudar a
sustentar,não pudera aturar a vida.
Como se viu,tanto que o jau morreu,
não durará ele muitos meses.
Pedro de Mariz
Devias estar aqui rente aos meus lábios
para dividir contigo esta amargura
dos meus dias partidos um a um.
- eu vi a terra limpa no teu rosto,
só no teu rosto e nunca em mais nenhum.
De Eugénio de Andrade
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