sexta-feira, 4 de abril de 2008

SÓ LOUCO! SÓ POETA!


Em ar diáfano,
quando já o consolo do orvalho
ressuma sobre a terra,
invisível e também sem se ouvir
- pois o consolador orvalho traz,
como todos os suavizadores,calçado leve -
lembras-te então,lembras-te,ardente coração,
da tua sede de outrora,
sede de lágrimas celestes e de orvalhos,
tu crestado e cansado,
enquanto sobre atalhos de erva seca
maldosos olhares do sol da tarde
em torno a ti corriam por entre árvores negras,
olhares de sol em brasa,cegantes e cínicos.

"Pretendente da Verdade
- tu?" assim eles te escarneciam

"Não!só um Poeta!

um bicho,manhoso,de rapina,rastejante,
que tem de mentir,
que ciente e voluntàriamente tem de mentir,
ávido de presa,
de disfarces multiclores,
de si mesmo disfarce,
de si mesmo presa,
isso - Pretendente da Verdade?...

Só Louco! só Poeta!
Dizendo só coisas multiclores,
falando multiclor por máscaras de louco,
trepando sobre pontes mentirosas de palavras,
sobre arcos-íris de mentiras
entre falsos céus
vagueando,rastejando -
só Louco! só Poeta!...


Excertos de F.Nietzsche


2 comentários:

Anônimo disse...

«"Pretendente da Verdade - tu?" assim eles te escarneciam
"Não!só um Poeta!».

Só um "sonhador", um lutador tenaz e perseverante.
mc

Menina Marota disse...

Só podia ser de Nietzsche...

e quem o recorda...
também.

Bj :))