Gosto do céu porque não creio que elle seja infinito.
Que pode ter comigo o que não começa nem acaba?
Não creio no infinito,não creio na eternidade.
Creio que o espaço começa numa parte e numa parte acaba
E que agora e antes d'isso ha absolutamente nada.
Creio que o tempo tem um princípio e tem um fim,
E que antes e depois d'isso não havia tempo.
Porque ha-de ser isto falso? Falso é fallar de infinitos
Como se soubessemos o que são de os podermos entender.
Não:tudo é uma quantidade de cousas.
Tudo é definidi,tudo é limitado,tudo é cousas.
De Fernando Pessoa
Poema inédito,sem data,transcrito por Jerónimo Pizarro
4 comentários:
Gostei de reler o postal.
Que carga de materialidade!
Caeiro, homem de pouca instrução?
Mas o mestre de Álvaro de Campos e de Ricardo Reis...
Alberto, o anti-filósofo. Melhor: Caeiro, o militante da "filosofia do não filosofar".
mc
mc
Lindo, lindo, perfeito.
O que parece "eterno e infinito" pode até "ser" na simples fração de um minuto.
Abraços
Este poema confesso que não conhecia apesar de muito ter lido e estudado sobre Fernando Pessoa e seus heterónimos e continuo a fazê-lo quando sinto necessidade disso, a procura dos tais " porquês" que eu falo no meu ultimo escrito. Antes de haver o "tudo" houve o "nada" mas depois do "tudo" ficamos com o "nada" novamente....
Um beijo meu amigo
Bonito poema. Boa escolha.
Beijo grande
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