quarta-feira, 13 de maio de 2009

O MORTO


O morto,assim barbeado,
assim vestido,calçado,
está pronto a ser enterrado,
está pronto a ser olvidado,
que ele agora é uma coisa,
é de fora para dentro.
Só aos vivos falta o tempo.
A ele não,que é uma coisa.
Não tem lazer,que fazer,
nem aflição ou dívida.
Qualquer destino lhe serve
à maravilha.
E tanto se lhe daria
ser o defunto na sala,
como carcaça na vala
ou objecto de poesia.
Mas não se esquecem os vivos
de condimentar o morto.
Para que dele não fique
mais que o osso?
De Alexandre O'Neill

Um comentário:

mc disse...

"... condimentar o morto.
Para que dele não fique
mais que o osso?"