quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

CÂNTICO DO PAÍS EMERSO (excerto)



Desta vez havia turistas a bordo,turistas

Quase sempre cardíacos hepáticos às vezes;

Funcionários dos cruzeiros anuais que fazem

O périplo da África jogando bridge no salão;

Almas correctamente vestidas por alfaiates

Ingleses. Antípodas da virilidade

Demonstrada em actos de prestidigitação

(Meter no bolso um paquete de luxo e tirá-lo

Do peito transformado em Nação);


Desta vez havia os corvos civilizados

Do bloqueio. As gralhas metálicas dos linotipos

As câmaras dos deputados e as da televisão

A rádio,o cabo submarino, o veio

Do desencanto,do tédio,das tolices,

Duma humanidade que tem por condenação

Descrer da moderna possibilidades do Ulisses;

Os campos magnéticos para a propagação

Do folhetim lamechas do paquete. O paquete

Donzela pùblicamente desonrada. A empresa

Proprietária viúva do paquete

A subscrição para os órfãos do paquete

O paquete o paquete o paquete

O paquete a troco das verdades omissas

As novenas as missas por alma do paquete

A coroa funerária dos sonhos adiados

Dos sonhos feriados por causa dessas missas...



De NATÁLIA CORREIA

Um comentário:

Anônimo disse...

Ora viva a Natália! A amiga do Morgado (lembram-se?).
Também gosto a valer.