Isto vai,caro amigo.
Não como nós queremos,é certo,
mas isto vai.
Por noites de insónia e alcatrão
por laranjas e lábios ressequidos
por desespero na voz e escuridão
isto vai,caro amigo.
Por mágoas acesas e relógios
pelo saber dos braços na alegria
pelo odor das plantas venenosas
isto vai,caro amigo.
Pelo cabo axial que liga a nossa esperança
pela luz dos cabelos,pelo sal
pela palavra remo,pela palavra ódio
isto vai,caro amigo.
Pela ternura e pela confiança
pela vontade e força,as nossas casas
pelo fervor com que inventamos (e depois
calamos)
isto vai,caro amigo.
Pelos carris do medo,pelas árvores
pela inocência e fome,pelos perigos
pelos sinais fraternos,pelas lágrimas
isto vai,caro amigo.
Pela rudeza do espaço
e em jardins falsíssimos
isto vai,caro amigo.
Desenho de Mestre Almada
Poema de JOÃO RUI DE SOUSA
in "Poesia Portuguesa do Pós-Guerra"
Um comentário:
Há duas ou três quadras que me soam a conhecidas. Devo ter ouvido, alguma vez, este poema.
Mas confesso (para além dessa eventualidade): não conhecia o poeta JOÃO RUI DE SOUSA...
E gostei de ter conhecido.
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