Cantarei o homem criador crucificado
em suas máquinas. Caçador caçado
por suas armas. Tocador tocado
por suas harpas.
Cantarei o homem vezes homem até ao infinito.
Cantarei o homem: esse mortal - imortal
meu amigo - inimigo. Meu irmão.
Cantarei o homem que transforma tudo
e tão difìcilmente se transforma.
Ele que se escreve com h pequeno
em todas as coisas que são grandes.
Cantarei o homem no plural.
Ele que é tão singular
tão impossível de ser outro
senão ele próprio: o homem.
Cantarei o homem vezes homem até à massa.
Cantarei a massa vezes massa até ao homem.
Porque não sei doutra guerra. Não sei doutra paz.
Não sei doutro poema que não seja o homem.
De MANUEL ALEGRE,in O CANTO E AS ARMAS
Poema seleccionado para representar Portugal na 10ª edição do festival cultural Printemps des Poètes,a realizar em Lyon,a 4 e 5 de Março(revista VISÃO)
2 comentários:
Grande poema.
A garra.
O inconformismo.
Gostei do poema!
Beijo grande
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