quarta-feira, 17 de setembro de 2008

MÃE


Mãe:
Que desgraça na vida aconteceu,
Que ficaste insensível e gelada?
Que todo o teu perfil se endureceu
Numa linha severa e desenhada?

Como as estátuas,que são gente nossa
Cansada de palavras e ternura,
Assim tu me pareces no teu leito.
Presença cinzelada em pedra dura,
Que não tem coração dentro do peito.

Chamo aos gritos por ti - não me respondes.
Beijo-te as mãos e o rosto - sinto frio.
Ou és outra,ou me enganas,ou te escondes
Por detrás do terror deste vazio.

Mãe:
Abre os olhos ao menos,diz que sim!
Diz que me vês ainda,que me queres.
Que és a eterna mulher entre as mulheres.
Que nem a morte te afastou de mim!

De Miguel Torga (1907 - 1995)

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