OVALLE não queria a Morte
Mas era dele tão querida
Que o amor da Morte foi mais forte
Que o amor de Ovalle à vida.
E foi assim que a Morte,um dia
Levou-o em bela carruagem
A viajar - ah,que alegria!
Ovalle sempre adora viagem.
Foram por montes e por vales
E tanto a Morte se aprazia
Que fosse o mundo só de Ovalles
E nunca mais ninguém morria.
A cada vez que a Morte,a sério
Com cicerônica prestança
Mostrava a Ovalle um cemitério
Ele apontava uma criança.
A Morte,em Londres e Paris
Levou-o à forca e à guilhotina
Porém em Roma,Ovalle quis
Tomar a sua cangebrina.
Mostrou-lhe a Morte as catacumbas
E suas ósseas prateleiras
Mas riu-se muito,tais zabumbas
Fazia Ovalle nas caveiras.
Mais tarde,Ovalle satisfeito
Declara à Morte,ambos de porre:
- Quero enterrar-me,que é um direito
Inalienável de quem morre!
Custou-lhe esforço sobre-humano
Chegar à última morada
De vez que a morte,a todo o pano
Queria dar uma esticada.
Diz o guardião do campo-santo
Que noite alta,ainda se ouvia
A voz da Morte,um tanto ou quanto
Que ria,ria,ria,ria...
De Vinicius de Moraes
Imagem:"Morte de Inês de Castro" de Columbano Bordalo Pinheiro
3 comentários:
Bom seria se pudessemos escolher a nossa hora da morte!
bj
Confesso que não conhecia... Li e reli...
Bj
Neste "sítio" publico o que vou buscar à arca...
Um abraço.
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