Quando eu tiver a certeza
De que nada foi verdade,
E que dentro da tristeza
Da minha serenidade
Nunca o sonho foi beleza,
Nem a Poesia certeza,
Nem o Amor foi verdade...
Quando eu souber,bem a fundo,
Que era cinza a minha pele;
Que ninguém me viu no mundo
E que não passei por ele...
Quando,de brumas envolta,
Só vir casarões vazios,
E só as vozes,à solta,
Me despertem arrepios...
Quando o frio me despir
As ilusões que julguei,
As vitórias que criei,
Os movimentos sagrados,
E já nada me entristeça...
E nem na sombra,em retratos,
Eu sequer me reconheça
- Se nem retratos tirei! -
Nos olhos me apagarei.
Quando eu tiver a certeza
De que nada foi verdade:
Nem os Céus nem a Beleza,
Nem a minha imensidade,
Nem os braços que estendi,
Nem os espaços que viajei,
Nem ilhas que nunca vi,
Mas chão onde descansei,
Nem noites de danças lentas
Em que me vinham buscar
- Madrugadas nevoentas
De ir com Eles para o mar...
Nem esse gosto impreciso,
Ténue gosto de salgado,
Que há-de haver no Paraíso
Quando está longe o pecado...
Quando eu tiver a certeza
De que nada foi Verdade,
Pedra me sinta atirada
Entre as coisas sem idade.
De NATÉRCIA FREIRE
Um comentário:
Belíssimo poema...
Grande Natércia!
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