quinta-feira, 10 de julho de 2008

SOBRE OUTROS LÁBIOS


Eu crescia para o verão.

Para a água

antiquíssima da cal

crescia violento e nu.


Podiam ver-me crescer

rente ao vento,

podiam ver-me em flor,

exasperado e puro.


À beira do silêncio,

eu crescia para o ardor

calcinado dos cardos

e da sede.


Morre-se agora

entre contínuas chuvas,

os lábios só lembrados

de um verão sobre outros lábios.


De Eugénio de Andrade

Imagem retirada do blog A ESSÊNCIA DAS COISAS

Um comentário:

Anônimo disse...

Que belo poema!
Que carga de erotismo!...

mc