As armas - me perguntam - e desarmado
sentado em Tipasá pergunto ao mar:
em que verso em que tempo em que país
se venceu desarmado o ódio armado?
E o Tempo passa em Tipasá e diz:
que só por minhas mãos me posso armar.
E pena a pena passa o Tempo enquanto
passo a passo não passa esta saudade
não do que foi mas só do que será
- tempo futuro e arma do meu canto.
Que desarmado eu vi em Tipasá
armar-se de saudade a liberdade.
Porque vais a correr Tempo que passas
em Tipasá onde há Romas e Parmas
nestas pedras que são tempo passado?
E caem-me das mãos como de taças
as palavras que são amor mudado
em versos desarmados - minhas armas.
E passa o Tempo aqui onde não passa
a saudade que pena a pena passo.
Sobre as pedras passadas tempo novo:
Argélia onde foi França em cada praça.
Tempo que passas:quando é que meu povo
terá o seu tempo no seu próprio espaço?
E vai-se uma gaivota para o sul
Como o Tempo se vai como ele voa
como o Tempo seu voo é uma saudade.
E como o Tempo deixa um rastro azul
a gaivota que deixa sobre a tarde
em Tipasá um rastro de Lisboa.
E as armas - me perguntam.E desarmado
sentado em Tipasá pergunto ao mar.
E doem-me os minutos como farpas
cravados na canção que é já passado.
Abre-se o Tempo em mim com suas harpas
que poderei fazer se não cantar?
E o Tempo é uma canção do Rei de Tule.
Não peçam aos meus versos madrugadas
que não posso cantar como quereis
e já o Tempo mais que um rastro azul
deixou desertos nas palavras. Eis
minhas palavras nuas como espadas.
Eis estas armas que não são auroras
nem as pombas da paz que me pedis
- só palavras (sem armas) pelo ar. Mas
se vos servir o sangue destas horas
armai-vos do meu canto - que são armas
meus versos a sangrar por meu país.
De MANUEL ALEGRE
in O CANTO E AS ARMAS
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