domingo, 1 de junho de 2008
A PALAVRA
À palavra viva é que eu tenho amor:
Salta tão jovial ao nosso encontro,
Saúda com gesto gracioso,
É bela mesmo sem jeito,
Tem sangue,é capaz de esbravejar com brio,
E então entra até nas orelhas de um surdo,
Encaracola-se e põe-se a voar,
E em tudo o que faz - a palavra encanta.
Mas a palavra é um ser delicado,
Ora doente,ora outra vez sadia.
Se lhe queres poupar a pequenina vida,
Tens de lhe pegar com leveza e graça,
Sem a apalpares nem a apertares à bruta,
Que ela morre por vezes já de um mau olhar
E aí fica ela,tão desfigurada,
Tão sem alma,tão pobre e fria,
O seu corpinho a tal ponto transformado,
Da morte e da agonia mal-tratado.
Uma palavra morta - feia coisa,
Um chocalhante e seco cling-ling-ling.
Fora esses ofícios hediondos
Que fazem morrer as palavrinhas!
De F.Nietzsche
Gravura de Durer,1514
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2 comentários:
E a palavra se fez... PALAVRA!
Gostei da escolha.
Um abraço e bom domingo ;)
Curioso! Falava eu da "palavra" a uma amiga e salta-me ao caminho este "saboroso" naco da poesia de Nietzsche!
mc
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