sábado, 8 de março de 2008

dia da mulher/BALADA A UMA VELHINHA


Num banco de jardim uma velhinha

está só com a sombrinha

que é o seu pano de fundo.

Num banco de jardim uma velhinha

está sózinha,não há coisa

mais triste neste mundo.

E apenas fez ternura,não fez pena

não fez dó,

pois tem no rosto um resto de

frescura.

Já coseu alpergatas e

bandeiras

verdadeiras.

Amargou a pobreza até ao fundo.

Dos ossos fez mesas e as

cadeiras,

as maneiras

que a fazem estar sentada sobre o

mundo.

No jardim ela

à trepadeira das canseiras

das rugas onde o tempo

é mais profundo.

Num banco de jardim uma velhinha

nunca mais estará sózinha,

o futuro está com ela,

e abrindo ao sol o negro da

sombrinha,poidinha,

o sol vem namorá-la da janela.

Se essa velhinha fosse

a mãe que eu quero,

a mãe que eu tinha,

não havia no mundo outra mais

bela.

Num banco de jardim uma velhinha

faz desenhos nas pedrinhas

que,afinal,são como eu.

Sabe que as dores que tem também

são minhas,

são moinhas do filho a desbravar

que Deus lhe deu.

E,em volta do seu banco,os

malmequeres e as andorinhas

provam que a minha mãe nunca

morreu.


De Ary dos Santos

Um comentário:

Codinome Beija-Flor disse...

Quero ficar assim... velhinha com um resto de frescor.
Linda sua homenagem.
Bjos