domingo, 22 de junho de 2008

NA MESA DO SANTO OFÍCIO


Tu lhes dirás,meu amor,que nós não existimos.

Que nascemos da noite,das árvores,das nuvens.

Que viemos,amámos,pecámos e partimos

Como a água das chuvas.


Tu lhes dirás,meu amor,que ambos nos sorrimos

Do que dizem e pensam

E que a nossa aventura,

É no vento que passa que a ouvimos,

É no nosso silêncio que perdura.


Tu lhes dirás,meu amor,que nós não falaremos

E que enterrámos vivo o fogo que nos queima.

Tu lhes dirás,meu amor,se for preciso,

Que nos espreguiçaremos na fogueira.


De Ary dos Santos

Um comentário:

Anônimo disse...

Magnífico.
Conquanto marcada por uma métrica menos usual nele, geralmente mais vigorosa e truculenta.
Esta, de mais sereno arroubo, é igualmente fantástica - mas não menos contundente.

mc