terça-feira, 24 de junho de 2008

A QUE MORREU ÀS PORTAS DE MADRID


A que morreu às portas de Madrid,

com uma praga na boca

e a espingarda na mão,

teve a sorte que quis,

teve o fim que escolheu.

Nunca,passiva e aterrada,ela rezou.

E antes de flor,foi,como tantas,pomo.

Ninguém a virgindade lhe roubou

depois de um saque - antes a deu

a quem lha desejou,

na lama dum reduto,

sem náuseas,mas sem cio,

sob a manta comum,

a pretexto do frio.

Não quis na retaguarda aligeirar

entre champanhe,aos generais senis,

as horas de lazer.

Não quis,activa e boa,tricotar

agasalhos pueris,no sossego dum lar.


Não sonhou minorar,

num heroísmo branco,

de bicho de hospital,

a aflição dos aflitos.


Uma noite,às portas de Madrid,

com uma praga na boca,

e a espingarda na mão,

à hora tal,atacou e morreu.


Teve a arte que quis.

Teve o fim que escolheu.


In Poemas,de Reinaldo Ferreira

2 comentários:

Anônimo disse...

Para mim, menos conhecido bardo.

Mas gostei.
Da garra e do ácido.

mc

daniel costa-lourenço disse...

excelente