sábado, 28 de novembro de 2009
CHUVA
É quando a chuva cai,é quando
olhado devagar que brilha o corpo.
Para dizê-lo a boca é muito pouco,
era preciso que também as mãos
vissem esse brilho e o dissessem
a quem passa na rua,e cantassem.
Todas as palavras falam desse lume,
sabem à pele dessa luz molhada.
De Eugénio de Andrade
sábado, 21 de novembro de 2009
DE ARY
Em Portugal o mal é ancestral
tem raízes no sal tem ruído nasal
desde que uns olhos se partiram tristes
Esta nossa saudade lacrimal
é hoje um mineral:
otorrinolaringoestalactite.
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
VENTO VENTO

Gosto do barulho do vento
Qualquer vento voador
Serve pro meu encantamento
Vento de chuva é o de calor
Vento mais fresco é o da flor
E aquele,frio de bater queixo
Traz a saudade de meu amor
E é nele que eu me deixo
Levar como se nada existisse
Como se andasse nu
E ninguém me visse
Como se eu fosse apenas alma
E essa nunca partisse
E a vida fosse como era antes
Gosto do vento
Somos velhos amantes
De Gerson Deslandes
sábado, 7 de novembro de 2009
NADA MAIS
Não há mais que inventar.
Não há mais que dizer.
A sintaxe está gasta.
As imagens estão gastas.
Mesmo a Morte está gasta
E todos os poetas
O deviam saber.
A moral está já gasta.
Gasta a anormalidade,
E a imoralidade,
E a amoralidade.
Gastos os sentimentos
E todos os tormentos,
Mais os grandes amores
E todos os pavores.
Gastos rios e serras,
Mais os erros das guerras.
Gasta a Ciência e a Arte.
Gastos,lutos,enterros,
Cemitérios,jazigos,
Lágrimas,desesperos,
Sacrilégios e perigos,
Crimes,roubos e monstros,
Lirismos e fardins,
Naufrágios,terramotos
E o dilúvio do Fim,
Planetas e vigílias
De mortes pressentidas,
Mais o amor das famílias,
Gastas todas as vidas!
Que tudo está já gasto
Porque morreste um dia.
Porque à tua paixão
Opuseram traição.
Aos teus braços de mel
Só opuseram fel.
Ao teu canto,ao teu riso
De ave do Paraíso,
Opuseram cegueiras,
- Monte das Oliveiras!
E se à minha paixão
Opuserem traição;
Se ao meu canto,aos meus risos,
Negarem Paraísos,
E cegarem meus olhos
Com pedradas certeiras,
Foi bem mais triste o teu
Monte das Oliveiras.
Todo o futuro é gasto
Porque morreste um dia.
Procurar-te,é bem pouco.
Achar-te,era demais.
Em mim,em qualquer ponto,
Te escondes e te esvais...
De Natércia Freire
Não há mais que dizer.
A sintaxe está gasta.
As imagens estão gastas.
Mesmo a Morte está gasta
E todos os poetas
O deviam saber.
A moral está já gasta.
Gasta a anormalidade,
E a imoralidade,
E a amoralidade.
Gastos os sentimentos
E todos os tormentos,
Mais os grandes amores
E todos os pavores.
Gastos rios e serras,
Mais os erros das guerras.
Gasta a Ciência e a Arte.
Gastos,lutos,enterros,
Cemitérios,jazigos,
Lágrimas,desesperos,
Sacrilégios e perigos,
Crimes,roubos e monstros,
Lirismos e fardins,
Naufrágios,terramotos
E o dilúvio do Fim,
Planetas e vigílias
De mortes pressentidas,
Mais o amor das famílias,
Gastas todas as vidas!
Que tudo está já gasto
Porque morreste um dia.
Porque à tua paixão
Opuseram traição.
Aos teus braços de mel
Só opuseram fel.
Ao teu canto,ao teu riso
De ave do Paraíso,
Opuseram cegueiras,
- Monte das Oliveiras!
E se à minha paixão
Opuserem traição;
Se ao meu canto,aos meus risos,
Negarem Paraísos,
E cegarem meus olhos
Com pedradas certeiras,
Foi bem mais triste o teu
Monte das Oliveiras.
Todo o futuro é gasto
Porque morreste um dia.
Procurar-te,é bem pouco.
Achar-te,era demais.
Em mim,em qualquer ponto,
Te escondes e te esvais...
De Natércia Freire
terça-feira, 3 de novembro de 2009
RETRATO DO PRONOME POSSESSIVO
O meu é teu. O teu é meu
e o nosso é nosso quando posso
dizer que um dente nos cresceu
roendo o mal até ao osso.
O teu é nosso. O nosso é teu.
O nosso é meu. O meu é nosso
e tudo o mais que aconteceu
é uma amêndoa sem caroço.
Dizem que sou. Dizem que faço
que tenho braços e pescoço
- que é da cabeça que desfaço
que é dos poemas que eu não ouço?
O meu é teu. O teu é meu
e o nosso,nosso quando posso
e sem o ver galgar o fosso
e sem o ver galgar o fosso.
De Ary dos Santos
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