O sarcasmo veludo dos teus dedos toca-me nas pálpebras. Não há nenhum sorriso borboleta tonta que não morra voando em torno do teu silêncio nenhum olhar lantejoula que não brilhe bordado no teu rosto nenhum riso vidrilho que não fira cromado nos teus dentes.
Amo-te meu amor aceso no lustre da sala maior do nosso encontro trémulo da música que ninguém ouve máscara palavra que ninguém murmura mármore convite incógnito que ninguém segreda. Amo-te meu amor alcatifa persa colorido mosaico dos minutos que invento espelho de Veneza bailarina russa de cabelos negros e de olhos de vento. Amo-te meu amor decote de imperatriz ave do paraíso anel de veneno orquídea perfídia bordada a matiz no rosto mistério que te não desvendo.
Guatemala la dulce,cada losa de tu mansión lleva una gota de sangre antigua devorada por el hocico de los tigres. Alvarado machacó tu estirpe, quebró las estelas astrales se revolcó en tus martírios.
Y en Yucatán entró el obispo detrás de los pálidos tigres. Juntó la sabiduría más profunda oída en el aire del primer día del mundo, quando el primer maya escribió anotando el temblor del río, la ciencia del polen,la ira de los Dioses del Envoltorio, las migraciones a través de los primeros universos, las leyes de la colmena, el secreto del ave verde, el idioma de las estrellas, secretos del dia y la noche cogidos en las orillas del desarrollo terrenal!
Minha Mãe,manda comprar um quilo de papel almaço na venda Quero fazer uma poesia. Diz a Amélia para preparar um refresco gelado E me trazer muito devagarinho. Não corram,não falem,fechem todas as portas a chave Quero fazer uma poesia. Se me telefonarem,só estou para Maria Se fôr o Ministro,só recebo amanhã Se fôr um trote,me chame depressa Tenho um tédio enorme da vida. Diz a Amélia para procurar a Patética no rádio Se houver um grande desastre vem logo contar Se o aneurisma de dona Ãngela arrebentar,me avisa Tenho um tédio enorme da vida. Liga para vovó Nenen,pede a ela uma ideia bem inocente Quero fazer uma grande poesia. Quando meu pai chegar tragam-me logo os jornais da tarde Se eu dormir,pelo amor de Deus,me acordem Não quero perder nada na vida. Fizeram bicos de rouxinol para o meu jantar? Puseram no lugar meu cachimbo e meus poetas? Tenho um tédio enorme de vida. Minha Mãe estou com vontade de chorar Estou com taquicardia,me dá um remédio Não,antes me deixa morrer,quero morrer,a vida Já não me diz mais nada Tenho horror da vida,quero fazer a maior poesia do mundo Quero morrer imediatamente. Fala para o Presidente para fecharem todos os cinemas Não aguento mais ser censor. Ah,pensa uma coisa,minha Mãe,para distrair teu filho Teu falso,teu miserável,teu sórdido filho Que estala em fôrça,sacrifício,violência,devotamento Que podia britar pedra alegremente Ser negociante cantando Fazer advocacia com o sorriso exato Se com isso não perdesse o que por fatalidade de amor Saber ser o melhor,o mais doce e o mais eterno da tua puríssima carícia.
Desapareceram os símbolos das cidades. Os instrumentos dos símbolos ainda não desapareceram.
É possível que,de repente,de leste a oeste,de oriente a ocidente, Nas paredes,no ar,no solo,nos canteiros, Nos velhos troncos de árvores, Nos jogos de água viva,
Nas mudas bibliotecas,em livros esquecidos, Nos palcos dos teatros,nas eléctricas luzes, Nas orquestras sem pátria dos músicos planetas,
Se revelem sinais,locais de Ásias secretas.
Mas da cegueira à paz,vão ângulos de som. Os vértices de amor,oscilam ténues fumos.
Os símbolos são homens,esventrados em explosões, São Osíris dispersos.Deuses em negros versos. Dos olhos sem retinas - que já todos desvelam, Dos gestos essenciais - pelos quais todos choram,
Se compõe esta frente em marcha silenciosa, De esotéricas vidas e histórias demolidas.
De superfícies brancas em sinfonias brancas, De surdos e de loucos,orquestradas nas ondas.
Bronzes de águas abertas,nas cascatas libertas, Dos países do Ar para os dias de Sombra.
Por visitar a Lua recebe-se a Loucura. Por visitar a Luz,recebe-se a cegueira.
É preciso dormir como quem apodrece E sossegar no pó,sem pena de ser só.
De Natércia Freire Pintura de Rubens (O rapto da Europa)
Ainda prefiro os bonecos de cachaporra, contundentes,contundidos,esmocados, com vozes de cana rachada e um toma toma toma de quem não usa a moca para coçar os piolhos, mas para rachar as cabeças.
O padreca,o diabo,a criadita, o tarata,a velha alcoviteira,o galã e,às vezes,um verdadeiro rato branco trapezista, tramavam para nós a estafada estória da nossa própria vida.
Mundo de pasta e de trapo que armava barraca em qualquer canto e sem contemplações pela moral de classe nem as subtilezas de quem fica ileso desancava os maus e beijocava os bons.
Ainda prefiro os bonecos de cachaporra.
Ainda hoje esbracejo e me esganiço como esses matraquilhos da comédia humana.
Da terra toda a sorte A luta a dá,Amigos! Sim,pra se ver amigo Fumo de pólvora é preciso! Uma das três são os amigos: Irmãos ante o perigo, Iguais ante o inimigo, Livres - ante a morte!