quarta-feira, 23 de julho de 2008

O ESPAÇO LIVRE


Desocupado,livre,

sem vestígios,ao sol,

tronco devorado pela luz,

ondulada frescura no dorso,

sem laços,sem raízes,desabitado.


Conheço o tempo

e a demora

lenta,

o vazio da casa na manhã,

a manhã deserta ao sol,

a cegueira da luz tão leve,

o deserto simples,

o nome prolongado e nulo.


Estou

no silêncio,

na habitação do silêncio,

no mar imaginado,

na planura verde sussurrante,

na seara das brisas,

nos adeuses prolongados em ondas desfeitas,

no vazio da terra fresca,

no silêncio sempre novo,

nas vozes sobre o mar,

no sono sobre o mar.


Estou deitado

e alto.

Sou a tranquilidade dos montes,

a lenta curva das baías,

os olhos subterrâneos da água,

a liberdade dispersa do vento,

a claridade de tudo.


Escrevo sobre dunas

silenciosamente.

Oiço o tempo que não passa.

Um século de frescura

inunda-me.

Não esperava habitar esta vasta clareira

límpida.

Não esperava respirar esta brisa de paz,

de liberdade isenta,

de morte desvelada,

de vida renovada.


Abraço todo o espaço na liberdade viva.


De António Ramos Rosa

2 comentários:

Anônimo disse...

Mais um magnífico poema.
De novo um grande poeta do nosso tempo.

Confirmado e mais que reconfirmadíssimo o critério de selecção do meu amigo.

mc

vero disse...

Eu é que agradeço meu amigo :)