quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

BALADA DAS MENINAS DE BICICLETEA




MENINAS de bicicleta

Que fagueiras pedalais

Quero ser vosso poeta!

Ó transitórias estátuas

Esfusiantes de azul

Louras com peles mulatas

Princesas da zona sul:

As vossas jovens figuras

Retesadas nos selins

Me prendem,com serem puras

Em redondilhas afins.

Que lindas são vossas quilhas

Quando as praias abordais!

E as nervosas pantorrilhas

No rotação dos pedais:

Que douradas maravilhas!

Bicicletai,meninada

Aos ventos do Arpoador

Sôlta a flâmula agitada

Das cabeleiras em flor

Uma correndo à gandaia

Outra com jeito de séria

Mostrando as pernas sem saia

Feitas da mesma matéria.

Permanecei! vós que sois

O que o mundo não tem mais

Juventude de maiôs

Sobre máquinas da paz

Enxames de namoradas

Ao sol de Copacabana

Centauresas transpiradas

Que o leque do mar abana!

A vós o canto que inflama

Os meus trint'anos,meninas

Velozes massas em chama

Eçplodindo em vitaminas.

Bem haja a vossa saúde

À humanidade inquieta

Vós cuja ardente virtude

Preservais muito amiúde

Com um selim de bicicleta

Vós que levais tantas raças

Nos corpos firmes e cruz:

Meninas: soltai as alças

Bicicletais seios nus!

No vosso rastro persiste

O mesmo eterno poeta

Um poeta - essa coisa triste

Escravizada à beleza

Que em vosso rastro persiste

Levando a sua tristeza

No quadro da bicicleta.


De Vinicius de Moraes

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