Cinzas,vergões,renúncias,cicatrizes,
Laceram-nos a esperança,mas dão outra.
Essa em que a dor nos faz criar raízes,
Árvore e fruto duma seiva nova.
Dos abismos da ira levantamos
As vozes,os protestos e as trombetas.
Só nos ouvimos quando nos calamos
E em vez de arautos nos tornamos poetas.
Cantores das coisas que nos doem,magos
Da nossa angústia,frémito das águas
Onde nos debruçamos,onde nós,
Narcisos do que é grande e impossível,
Nos transformamos por amor da voz
Enquanto a imagem nos parece inútil.
De Ary dos Santos
2 comentários:
Como é lindo esse poema.
"Nos transformamos por amor da voz".
E por vezes aprendemos a nos transformar pelo silêncio.
Abraços
Inconfundível, o grande Ary!
mc
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