sexta-feira, 17 de julho de 2009

VELHOS / 2


O Mataboches,o que deixou os alemães passarem em sucessivas vagas,
para,depois,do seu buraco,os dizimar pelas costas,
está que não pode.
Reformado da fábrica onde,até há poucos anos,
apoveitando as espertinas de ex-gaseado,
guardava as larápias sombras da noite,
o Mataboches já nem à taberna vai.
A filha,antes de sair para o trabalho,
deixa-o sentado à janela,entre canário e sardinheira,
com um mata-moscas à mão.
E o Mataboches passeia o curto-alcance dos seus olhos
do amarelo ao rosa,
vigiando mosca e varejeira.
Às vezes apanha chuva e larga a rir
(por ser regado ao mesmo tempo que as sardinheiras?)
um riso que põe o canário,espavorido,
a harpejar as barras da gaiola.
Penugem amarela rodeia o Mataboches.
Ele não dá por nada;dá a filha,
que lhe ralha e lhe faz ciúmes com o Hilário,o canoro.
Passa-se,então,um curioso ritual:
a filha tira o canário da gaiola,diz-lhe:"Ele foi mau pró meu Hilário!",
e enquanto o pai se agita,regouga,troca e destroca
seus gestos de meio paralítico,
ela,com um olho no velho,beija o passarinho,
alisa-lhe as penas,quase o come.
E o ritual só acaba quando o Mataboches
mistura a sua baba com o seu ranho.
O Mataboches,o do C.E.P.,
peneira o ar com o mata-moscas
e erra a última mosca.
De Alexandre O'Neill

Um comentário:

vero disse...

Olá meu amigo,

eu já tinha passado aqui pelo teu cantinho para te ler mas não deixei comentário, ando um pouco ocupada como deves entender :) e tenho tido pouco tempo livre...

Peço desculpa por ainda não ter enviado um exemplar do meu livro mas irei fazê-lo a seguir ao meu casamento :)


Beijinhos