sábado, 16 de janeiro de 2010

O MARTÍRIO


Flora nua vai subindo
por escadinhas de água.
O Cônsul pede a bandeja
para pôr os seios de Eulália.
Um jorro de veias verdes
brota de sua garganta.
Seu sexo treme enredado
como um pássaro nas silvas.
Sobre o chão,sem uma norma,
saltam suas mãos cortadas
que ainda se cruzam em ténue
oração decapitada.
Pelos buracos vermelhos
onde seus peitos estavam
vêem-se céus diminutos
e arroios de leite branco.
Mil arvorezinhas de sangue
cobrem as suas espáduas
e põem húmidos troncos
ante o bisturi das chamas.
Centuriões amarelos
de carne gris,desvelada,
chegam ao céu ressoando
as armaduras de prata.
E enquanto vibra confusa
paixão de crinas e espadas,
na bandeja o Cônsul leva
seios fumados de Eulália.

De Frederico Garcia Lorca
Tradução de José Bento
ed. Relógio d'Água

Um comentário:

mc disse...

À chamada dos poetas com maiúscula compareceu, agora o, também enorme, Garcia Lorca.