sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

POEMA COM h PEQUENO


Cantarei o homem criador crucificado

em suas máquinas. Caçador caçado

por suas armas. Tocador tocado

por suas harpas.

Cantarei o homem vezes homem até ao infinito.

Cantarei o homem: esse mortal - imortal

meu amigo - inimigo. Meu irmão.


Cantarei o homem que transforma tudo

e tão difìcilmente se transforma.

Ele que se escreve com h pequeno

em todas as coisas que são grandes.


Cantarei o homem no plural.

Ele que é tão singular

tão impossível de ser outro

senão ele próprio: o homem.


Cantarei o homem vezes homem até à massa.

Cantarei a massa vezes massa até ao homem.


Porque não sei doutra guerra. Não sei doutra paz.

Não sei doutro poema que não seja o homem.


De MANUEL ALEGRE,in O CANTO E AS ARMAS

Poema seleccionado para representar Portugal na 10ª edição do festival cultural Printemps des Poètes,a realizar em Lyon,a 4 e 5 de Março(revista VISÃO)

2 comentários:

Anônimo disse...

Grande poema.
A garra.
O inconformismo.

Sei que existes disse...

Gostei do poema!
Beijo grande