terça-feira, 26 de agosto de 2008

A BARCA MISTERIOSA


Ontem à noite,quando tudo já dormia
E o vento com suspiros indecisos,
Pelas vielas mal corria,
Nenhum repouso me dava o travesseiro,
Nem a papoula,nem o que de resto
Dá sono profundo - a consciência tranquila.

Expulsei por fim da ideia do sono
E corri para a praia. Havia luar
E o tempo estava ameno, - encontrei
Homem e barco sobre a areia quente,
Sonolentos ambos,pastor e ovelha: -
Sonolento o barco se afastou de terra.

Uma hora,talvez mesmo duas,
Ou foi um ano? - Então,de súbito,
Espírito e pensamentos mergulharam
Numa eterna monotonia,
E um abismo sem limites
Se abriu: - e tudo acabou!

- A manhã chegou: sobre profundas negras
Está um barco que repousa,repousa...
Que aconteceu? Ouviu-se um grito,e em breve
Mais cem gritos: Que houve? Sangue? - -
Nada aconteceu! Dormimos,dormimos
Todos - ai,tão bem! tão bem!

De F. Nietzsche

Um comentário:

Anônimo disse...

É claro que as escolhas (nada fáceis) não podem agradar sempre, da mesma forma, a todos...
mc