quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

PORT - WINE


O Douro é um rio de vinho

que tem a foz em Liverpool e em Londres

e em Nova Iorque e no Rio e em Buenos Aires:

quando chega ao mar vai nos navios,

cria seus lodos em garrafeiras velhas,

desemboca nos clubes e nos bares.


O Douro é um rio de barcos

onde remam os barqueiros suas desgraças,

primeiro se afundam em terra as suas vidas

que no rio se afundam as barcaças.


Nas sobremesas finas as garrafas

assemelham cristais cheios de rubis,

em Cape Town,em Sidney,em Paris,

tem um sabor generoso e fino

o sangue que dos cais exportam em barris.


As margens do Douro são penedos

fecundados de sangue e amarguras

onde cava o meu povo as vinhas

como quem abre as próprias sepulturas:

nos entrepostos do cais,em armazéns,

comerciantes trocam por esterlino

o vinho que é o sangue dos seus corpos,

moeda pobre que são os seus destinos.


Em Londres os lords e em Paris os snobs,

no cabo e no rio os fazendeiros ricos

acham no Porto sabor divino,

mas a nós só nos sabe,só nos sabe,

à tristeza infinita de um destino.


O rio Douro é um rio de sangue,

por onde o sangue do meu povo corre.

Meu povo,liberta-te, liberta-te!,

Liberta-te, meu povo! - ou morre.



De JOAQUIM NAMORADO,in A POESIA NECESSÁRIA

2 comentários:

Anônimo disse...

Que belo poema!
Como a geografia nos engana!
Que imagens! Que verdades!

Anônimo disse...

- percebeste alguma coisa, nunca pingo da posta? O senhor fala do Douro e do vinho do Porto. Mas tem a geografia toda baralhada!
- vaidemim! Vai por mim: como se trata do nosso néctar, o senhor tá é c'os copos... Penso eu de que