sábado, 26 de janeiro de 2008

ÇÀ IRA!


Isto vai,caro amigo.

Não como nós queremos,é certo,

mas isto vai.


Por noites de insónia e alcatrão

por laranjas e lábios ressequidos

por desespero na voz e escuridão

isto vai,caro amigo.


Por mágoas acesas e relógios

pelo saber dos braços na alegria

pelo odor das plantas venenosas

isto vai,caro amigo.


Pelo cabo axial que liga a nossa esperança

pela luz dos cabelos,pelo sal

pela palavra remo,pela palavra ódio

isto vai,caro amigo.


Pela ternura e pela confiança

pela vontade e força,as nossas casas

pelo fervor com que inventamos (e depois

calamos)

isto vai,caro amigo.


Pelos carris do medo,pelas árvores

pela inocência e fome,pelos perigos

pelos sinais fraternos,pelas lágrimas

isto vai,caro amigo.


Pela rudeza do espaço

e em jardins falsíssimos


isto vai,caro amigo.


Desenho de Mestre Almada

Poema de JOÃO RUI DE SOUSA

in "Poesia Portuguesa do Pós-Guerra"

Um comentário:

Anônimo disse...

Há duas ou três quadras que me soam a conhecidas. Devo ter ouvido, alguma vez, este poema.
Mas confesso (para além dessa eventualidade): não conhecia o poeta JOÃO RUI DE SOUSA...
E gostei de ter conhecido.