domingo, 25 de novembro de 2007

32 ANOS!


É da terra sangrenta. Terra braço

terra encharcada em raiva e em suor

que o homem pouco a pouco passo a passo

tira a matéria-prima do amor.


Umas vezes o trigo loiro e cheio

outras o carvão negro e faiscante

umas vezes petróleo outras centeio

mas sempre tudo menos que o bastante.


Porque a terra não é de quem a trabalha

porque o trigo não é de quem semeia

e um trabalhador apenas falha

quando faz filhos em mulher alheia.


Quando o estrume das lágrimas chegar

para adubar os vales da revolta

quando um mineiro puder respirar

com as narinas dum cavalo à solta


quando o minério se puder tornar

semente viva de bem-estar e pão

quando o silêncio se puder calar

e um homem livre nunca dizer não.



Quando chegar o dia em que o trabalho

for apenas dar mais ao nosso irmão

quando a fúria da força que há num malho

fizer soltar faíscas de razão.


Quando o tempo do aço for o tempo

da têmpera dos homens caldeados

por pó e chuva por excrementos e vento

mas por sua vontade libertados.


Quando a seiva do homem lhe escorrer

por entre as pernas como sangue novo

e quando a cada filho que fizer

puder chamar em vez de Pedro Povo.


As entranhas da terra hão-de passar

o tempo da humana gestação

e parir como um rio a rebentar

o corpo imenso da Revolução.


De JOSÉ CARLOS ARY DOS SANTOS - A TERRA

2 comentários:

Anônimo disse...

Sempre ele: intenso, forte, vertical, verdadeiro, por vezes agressivo (para alguns. Felizmente).

Codinome Beija-Flor disse...

Fantástico.
Abraços