segunda-feira, 5 de novembro de 2007

A QUE MORREU ÀS PORTAS DE MADRID


A que morreu às portas de Madrid,
com uma praga na boca
e a espingarda na mão,
teve a sorte que quis,
teve o fim que escolheu.
Nunca,passiva e aterrada,ela rezou.
E antes de flor,foi,como tantas,pomo.
Ninguém a virgindade lhe roubou
depois de um saque-antes a deu
a quem lha desejou,
na lama dum reduto,
sem náuseas,mas sem cio,
sob a manta comum,
a pretexto do frio.

Não quis na retaguarda aligeirar
entre champanhe,aos generais senis,
as horas de lazer.
Não quis,activa e boa,tricotar
agasalhos pueris,no sossego dum lar.

Não sonhou minorar,
num heroísmo branco,
de bicho de hospital,
a aflição dos aflitos.

Uma noite,às portas de Madrid,
com uma praga na boca,
e a espingarda na mão,
à hora tal,atacou e morreu.

Teve a sorte que quis.
Teve o fim que escolheu.

De REINALDO FERREIRA,in POEMAS

2 comentários:

Anônimo disse...

Grande mulher!
Grande poema!
Grande poeta!

Codinome Beija-Flor disse...

Obrigada pelo convite, vou ler todas,já deu para notar que poesia é algo que me encanta.
Abraços