Eu quero compôr um soneto duro
Como poeta algum ousara escrever
Eu quero pintar um soneto escuro,
seco,abafado,difícil de ler.
Quero que meu soneto,no futuro,
não desperte em ninguém nenhum prazer.
E que,no seu maligno ar imaturo,
ao mesmo tempo saiba ser,não ser.
Esse meu verbo antipático e impuro
há de pungir,há de fazer sofrer,
tendão de Vénus sob o pedicuro.
Ninguém o lembrará:tiro no muro,
cão mijando no caos,enquanto Araturo,
claro enigma,se deixa surpreender.
De CARLOS DRUMOND DE ANDRADE
Óleo de MESTRE ALMADA
2 comentários:
Bela imagem e belo poema! (E duro, mesmo, como o poeta o construiu).
Credo, Senhor!
Que imagens e que linguagem!
bf
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